10 de jan. de 2012

Quando não há esperança, não há mais razão para ser pessimista

Aki Kaurismaki em seu mais novo filme O Porto, aborda de forma doce e extremamente divertida a imigração e xenofobia na Europa.
Em uma cidade portuária da França chamada Le Havre - onde há uma grande concentração de imigrantes ilegais - Marcel Marx (André Wilms) um ex-escritor, agora engraxate boêmio, se depara com um garoto africano - Idrissa (Blondin Miguel) - que chegou na cidade num contêiner, no intuito de ir para Londres reencontrar sua mãe e conseguiu escapar das autoridades quando descoberto.

Marx - que faz alusão à filosofia e a classe social mais baixa - acaba ajudando o garoto o escondendo e o abrigando em sua propria casa, sem se preocupar com o inspetor Monet (Jean-Pierre Darroussin), um detetive encarregado de encontrar Idrissa.
Monet (Darroussin) e Marx (Wilms): Figuras opostas unidas pelo "milagre"da caridade.
Em meio a crise e a falta de dinheiro, o milagre é derivado do otimismo de Marx, contagiando a vizinhança que por sua vez também acolhe o garoto e apoia a decisão do engraxate. O Porto - título em português - muito mais que referente a cidade portuária acaba sendo um porto seguro, repleto de solidariedade e fraternidade daqueles que habitam a pacata Le Havre.

Aki Kaurismaki em uma entrevista relatou sua falta de esperança na humanidade - "Quando não há esperança, não há mais razão para ser pessimista" - e em contrapartida produziu um filme onde a bondade e a esperança emergem mesmo em tempos difíceis. O diretor retrata a sociedade não como ela realmente é, mas sim como ela poderia ser e coloca a caridade como um milagre vencendo até mesmo a lei, através da solidariedade prestada pelo detetive Monet - que não por acaso leva o nome de Monet, pintor e sociólogo conterrâneo de Le Havre.
O Porto, representante da Finlândia e forte candidato a concorrer como melhor filme estrangeiro no Oscar 2012 , é o ponto de vista otimista de uma situação desesperançosa recorrente.

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