17 de jan. de 2012

Qual é o futuro do cinema iraniano?

Desde uma vanguarda que surgiu em um país marcado por suas constantes reviravoltas políticas e sociais, a cinematografia iraniana começou a ganhar destaque mundial em pouco tempo, consagrando-se como uma forma única de cinema, feita por diretores cuja percepção difere da sobriedade artística proveniente de Hollywood. 

Abbas Kiarostami e Juliette Binoche 
Com os constantes conflitos existentes no país, palco de inúmeras guerras, protestos, prisões e mais mortes, o cinema de Teerã e região nos pareceu profundamente ligado ao seu cotidiano, dando aos espectadores um panorama completo sobre como caminha o tão distante país. Desde o início do século XX, passando por grandes transformações, especialmente a partir da década de 80, na chamada "New Wave iraniana", que criticava de forma direta o tradicional islamismo e mostrava um país que, aos poucos tentava modernizar sua mentalidade. Com inspiração no neorrealismo italiano e na nouvelle vague francesa, além do kino-pravda russo, criado por Dziga Vertov, os diretores iniciaram um processo que culminou em um reconhecimento pleno desta luta perante a passividade do cinema oficial (como se chama hoje o cinema patrocinado pelo governo do Irã) e, especialmente, de uma épica batalha pela liberdade de expressão em um país de tradições culturais tão fechadas. O pioneiro deste cinema novo foi Abbas Kiarostami, hoje, mundialmente conhecido a partir de premiações em festivais internacionais, como a grande produção O Gosto da Cereja, vencedor da Palma de Ouro em Cannes e com seu mais novo filme, que causou comoção na crítica internacional Cópia Fiel, que conta com a atuação de Juliette Binoche

Jafar Panahi em prisão domiciliar - Maio de 2010
No contexto atual, que se pauta nos últimos anos até hoje, a presença de uma forte opressão assombra o cinema independente iraniano. Um dos casos mais polêmicos envolve o diretor Jafar Panahi, condenado a prisão domiciliar, além de vinte anos proibido de dirigir e escrever para produções cinematográficas. Em 2010, sua casa foi invadida e sua coleção apreendida. Após 88 dias preso, passando por greve de fome e uma proibição de comparecer ao Festival de Cinema de Veneza, Panahi se tornou símbolo de uma luta internacional, que incluiu inúmeros artistas, de Steven Spielberg a Michael Moore, passando pelos irmãos Dardenne e Francis Ford Coppola, que se conscientizaram perante a questão da liberdade de expressão dos artistas iranianos e hoje lutam pela liberdade do próprio Panahi, a partir do reconhecimento de uma produção quase que confidencial, Isto Não É um Filme, gravado de forma caseira, que de uma forma direta com seus espectadores, mostrava o seu cotidiano encarcerado - o estopim para a comoção, primeiramente em Cannes e que depois assumiu o porte mundial.

Asghar Farhadi recebe o Globo de Ouro ao lado do ator Peyman Moaadi (Nader)
A Separação, de Asghar Farhadi é o mais novo vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, além dos incontáveis prêmios obtidos mundialmente. Uma história simples, que envolve um casal instruido de classe média que luta por um divórcio digno, encabeça um debate muito mais profundo sobre as circunstâncias do sistema judiciário iraniano, abrindo-se ao público inteiramente, como se Nader e Simin fossem seus próprios parentes. Um enredo intenso é o que marca A Separação, um ritmo natural e humano, com a presença de personagens muito mais realistas do que o cinema ocidental já pensou em possuir foi o que levou Asghar Farhadi ao êxtase por onde passava. Já se sabe que A Separação é um forte concorrente ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2012.

A última notícia que temos sobre a situação do cinema no Irã se relaciona ao fechamento da Casa do Cinema, uma instituição independente, que foi fechada na última semana pelo ministro da cultura do país, tendo como motivo a sua ilegitimidade como instituição. Uma instituição que existe a mais de vinte anos e mais de 5.000 membros foi declarada como inútil por motivos incertos. O que é certo é que a Casa da Cinema, além de apoiar projetos criativos, também suportava com verba o cinema independente. Suas portas fechadas, com certeza quebrará o último canal autônomo de liberdade de expressão naquele país que agora não nos parece tão distante. 

(fonte especial: RIA Novosti)

Um comentário:

Marcos Souza disse...

O fechamento, possivelmente arbitrário, da Casa do Cinema é realmente um fato infeliz para a produção artística naquele país. Entretanto, graças a atenção que o Cinema do Irã adquiriu internacionalmente nas últimas décadas, aqueles que ainda resistem tem usufruído do apoio e cooperação estrangeiras, o que nos dá alguma esperança!