Que Jafar Panahi foi condenado a 6 anos de prisão, 20 anos sem dirigir e escrever roteiros de filmes, não é novidade. Mas o que ninguém esperava é que o diretor iraniano pensasse em uma forma de burlar as regras e fizesse um filme (não-filme) que serviria como instrumento para a luta a favor da liberdade de expressão.
A história de Jafar Panahi retratada simbolicamente em Isto Não é Um Filme, acabou mobilizando grandes nomes do cinema mundial, e colocando em pauta um assunto que deve ser discutido: Até que ponto o governo de um país é livre para escolher não conceder a liberdade de expressão para aqueles que - sem escolha - nele vivem?
Membros da Berlinale posam para foto em frente a cartaz do cineasta iraniano Jafar Panahi, homenageado nesta 61ª Berlinale |
Os maiores veículos, grandes cineastas e artistas do mundo todo juntaram-se em favor da libertação de Jafar Panahi, e assim essa causa mobilizou instantaneamente a todos, tornando Isto Não é Um Filme um dos mais polêmicos filmes lançados em 2011. Não por conteúdo abusivo - como já vimos acontecer este ano - e sim por funcionar como ferramenta anti-opressão, mostrando - em um tempo em que filmes são feitos para serem censurados por mera estratégia de marketing - o que realmente significa censura, e até onde ela pode interferir na vida daqueles que por ela são afetados.
Organizações de Hollywood que representam roteiristas, diretores, atores e a equipe responsável pela entrega do Oscar, emitiram um comunicado expressando apoio aos cineastas iranianos que, como Jafar Panahi, foram condenados à prisão e à não realização de seus trabalhos, ou punidos com castigos físicos (como a atriz Marzieh Vafamehr) por discordar do governo de Mahmoud Ahmadinejad do Irã.
"Esperamos que o governo iraniano liberte esses cineastas e reconheça que seus trabalhos criativos podem apenas fortalecer e enriquecer a sociedade iraniana" - Sindicato dos Diretores. |
Isto Não é Um Filme representa muito mais do que apenas o protesto do diretor Jafar Panahi. A ideia de realizar o documentário surgiu em dezembro de 2010, quando foi sentenciado a seis anos de prisão pelo governo que alegou que o diretor iraniano estava "conivente com a intenção de cometer crimes contra a segurança nacional do país e fazer propaganda contra a República Islâmica".
Juliette Binoche se emocionou ao falar sobre Jafar Panahi ao receber o prêmio de melhor atriz em Cannes deste ano por Cópia Fiel, dirigido pelo também iraniano Abbas Kiarostami. |
Panahi apoiou a oposição do atual presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad nas últimas eleições em 2009, e Isto Não é Um Filme é sua tentativa de contornar as leis que o impedem de realizar seu incrível trabalho, que lhe rendeu um Leão de Ouro em Veneza por O Círculo em 2000 e a Câmera de Ouro em Cannes de 1995 por O Balão Branco.
"Caso o apelo não tenha resultado, a força do governo pode silenciar um dos principais artistas iranianos e sufocar a elogiada produção cinematográfica do país." Revista Época. |
O protesto de todos em favor de Jafar Panahi pela liberdade continua, e você pode entender mais sobre o porquê desta luta assistindo a um dia da rotina do diretor iraniano registrado enquanto em prisão domiciliar em Isto Não é Um Filme, que estreia hoje nos cinemas.
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