19 de dez. de 2011

Cine Nostalgia - Michael Haneke

Hoje, o Cine Nostalgia fala sobre Michael Haneke, cineasta austríaco que, de forma muito própria, coloca em questão temas relacionados profundamente com a violência e a crueldade humana. Trabalhando pelo viés do drama psicológico, Haneke consegue manter seus espectadores em um clima de tensão, impulsionado apenas pelo desenvolvimento das cenas através de suas personagens, escolhidas de modo que possam expressar significativamente todo o conteúdo que o diretor deseja mostrar. Pode-se dizer que a fisionomia das personagens de Michael Haneke são a personificação da ação, medida especialmente pelo lado mais desconhecido da psicologia humana, embasados na própria fisionomia, que aponta para a tensão buscada pelo diretor. 

Em Violência Gratuíta, as comparações com Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick são frequentes; os jovens aparentemente simpáticos apresentam-se a uma rica família, em sua casa de campo, como convidados de seus vizinhos. Não tarda para que a dupla inicie um plano de sadismo e violência, suas verdadeiras intenções se revelem. Fazendo uma alusão clara ao processo da violência em meios da arte cinematográfica, Haneke dá espaço para que o espectador se questione sobre os meios como o sadismo no cinema floresça até mesmo nas produções mais sutis e aparentemente ingênuas. A alusão à trilha sonora, de cunho clássico, remete mais ainda à Kubrick e seu Alex, a freneticidade dada à composição da violência e do sadismo que compõem Violência Gratuíta possui um charme sem comparação, onde a fisionomia, mais uma vez, de seus personagens, lidera um jogo de expressões que causam toda uma tensão proposital. Haneke é apenas um cúmplice deste jogo terrível.

Já no premiado A Fita Branca, a questão da violência se foca em um período histórico, uma Alemanha triste e acinzentada, um cenário pré-guerra composto por um conflito interno. A filmagem é em preto-e-branco, dando um ar completamente realista àquela produção. A crueldade pulsante de um pequeno vilarejo, que fica ali, em um palco perfeito para a ascenção do nazismo também dá aos seus espectadores um leque de reflexões sobre o modo como a violência passa de geração em geração, conduzindo as suas vítimas à tentativas de vingança e acúmulo de maldade sem limites. Neste contexto monocromático, uma série de sádicos acontecimentos vem ocorrendo ao mesmo tempo em que crianças e jovens são submetidos à diversos tipos de crueldade, com um embasamento moral muito claro por seus pais e representantes. O gosto pela maldade fica estampado durante os 144 minutos que percorrem o filme; o sofrimento, a degradação moral, física e sexual são colocadas em um plano principal onde os sentimentos parecem não existir. Ao final, o espectador pode sentir claramente o sangue que pulsa por todo o corpo queimando, como um combustível prestes à explosão, em ódio e indignação. Haneke faz, de fato, uma análise muito simples sobre o subconsciente, que capaz de reger um crime, está presente em nossa sociedade, em nossas vidas, durante muito tempo. 

Haneke certamente expressa tudo o que fica contido em uma geração; o pior lado do ser humano é colocado em um pedestal e analisado como em um divã. E seus espectadores veem atrocidades que, após o momento em que parecem naturais, tornam-se objeto de aprendizado, como o ódio movido pelo ódio. 

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