Essa reflexão de Martin (Javier Drolas) dá início ao filme Medianeras - Buenos Aires na Era do Amor Virtual, primeiro longa-metragem de Gustavo Taretto - publicitário, que dá um toque diferente ao filme - que faz uma sutil, porém profunda, reflexão sobre como a arquitetura dos apartamentos minúsculos "caixas de sapato", como o próprio personagem associa, refletem diretamente nas separações, nos divórcios, na violência familiar, no excesso de canais a cabo, na falta de comunicação, falta de desejo, a apatia, a depressão, os suicídios, as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade, a tensão muscular, a insegurança, a hipocondria, o estresse e o sedentarismo, sintomas descritos por Martin, decorrentes de uma modernidade conectada e "preocupada" com a comodidade do indivíduo, que acaba os acomodando demais a ponto de viverem em caixas de sapato, e não precisarem sair nem para comprar sua própria comida.
Esse cenário é comum em grandes cidades, não só em Buenos Aires, mas acontece também no Brasil. O paralelo foi traçado pelo jornal O Globo em parceria com o programa Morar Bem que propôs a alguns especialistas uma reflexão sobre a vida dos cariocas em seu espaço urbano.
Gustavo Taretto em entrevista para O Globo declarou: "O Rio me fascina, porque convive harmoniosamente com a natureza, e isso dá um ar mais tranquilo às pessoas. Quem tem uma só janela está condenado a um único ponto de vista, ao passo que quem abre uma janela amplia sua visão."
O estudo feito no entanto, comprova que de fato os imóveis estão cada vez menores. O tamanho dos apartamentos no estado do Rio de Janeiro, por exemplo, diminuiu na última década em média 13% e que o improviso de abrir janelas nas empenas cegas de edifícios é, naturalmente, proibido por leis municipal e federal, mas acaba sendo adotado pelos moradores que necessitam de mais luz e ar dentro de seus minúsculos apartamentos.
A inabilidade das relações humanas, e a superficialidade destas, assim como todos os sintomas descritos por Martin, são características de cidades que, já tão aglomeradas, crescem para cima em apartamentos minúsculos e cada vez mais compactos, onde temos espaço apenas para exercer nossas mais básicas funções: Nos alimentar, dormir e entrar na internet. Portanto, cabe a nós abrirmos a medianera necessária e expandir nosso olhar - e vida - para que possamos, mesmo em nossas caixas de sapato, viver harmoniosamente com nossas grandes cidades caóticas.
Não perca Medianeras - Buenos Aires na Era do Amor Virtual em cartaz nos cinemas.
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