O fato de ela ser chinesa
agrava o peso das tradições e da repressão sexual que tornavam muito difícil o
acesso à intimidade da mulher, porém, esse aspecto cultural, menos impactante,
mas ainda assim sempre presente também no ocidente, sempre permeou a vida das
mulheres e moldou nosso comportamento e padrão de pensamento. A memória da
opressão e do abandono sempre ronda as mulheres, desde os tempos de casamentos
forçados, até as desilusões amorosas, o ostracismo e a violência presente hoje.
Na China, por exemplo, a
carência da educação sexual e a repressão à liberdade de expressão afetiva das
mulheres, fizeram de várias delas vítimas de estupros, na maioria das vezes
acobertados pelo governo. Acarreta, muitas vezes, na forma em que afloram
sentimentos de amor e paixão.
Hua foge dos relacionamentos
nos quais ela pode controlar e obter estabilidade, como se no fundo não
conseguisse se libertar inconscientemente da opressão cultural sofrida pelas mulheres.
Ela gosta do abuso (da dor). Mathieu supre a necessidade de parceiro bruto que
a trata como um objeto que o pertence (o que ela ama), e ela não consegue
abandonar esta relação contraditória de amor e dor, agressividade e posse,
diferenças e afinidades, não importa quantas vezes ele a tenha insultado.
Hua é chinesa, mas a história
parece bastante semelhante a diversas outras que qualquer garota, ou alguma
amiga, já tenha passado. O longa é baseado na obra autobiográfica de Jie
Liufalin chamada "Bitch", e o diretor Lou Ye da ao tema um tratamento
firme e delicado, trazendo à tona a esperança, o desejo e a contradição das
mulheres presas entre o amor e a dor.
Vencedor do prêmio do júri de
melhor filme e melhor atriz na 2ª edição do Festival Internacional do
Cinerama.BC, "Amor e Dor" é uma bruta e hipnótica fatia de um louco
amor.
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