Quando olhamos para Serge (Gérard Depardieu) pela primeira vez e ao contexto em que está inserido, logo o classificamos como um brutamonte, alguém com quem não valeria a pena desperdiçar o tempo em uma conversa longa, a não ser que o assunto fosse sobre algo esdrúxulo como a conservação de peças de presunto ou o abatimento de animais, que fazia parte de sua função em seu antigo emprego.
Por volta dos sessenta anos, prestes a receber sua aposentadoria, Serge descobre que precisa reunir documentos de seus antigos empregadores para poder se aposentar. Então, com sua antiga moto anos 70 (a Mamute) até então guardada em sua garagem, inicia uma jornada em busca de seus antigos locais de trabalho e acaba encontrando muito mais do que comprovantes e documentos: Serge redescobre lugares que passou sua infância, velhos amigos, parentes e o fantasma de seu grande amor, que sempre o assombrou desde sua morte em um acidente de moto.
Isabelle Adjani é o fantasma do amor perdido de Depardieu |
Essas situações o desviam de seu objetivo inicial, mas ao mesmo tempo o tiram um pouco do grande tédio que permeava sua vida, e o ajuda a resolver algumas pendências deixadas para trás.
Ao decorrer do filme descobrimos que “Mamute” (como Serge é chamado por seus antigos patrões) é gigantesco por fora, mas doce e singelo por dentro.
Serge e sua “Mamute” percorrem todo o trajeto de volta à seu passado, que o tornou um homem bruto com aspecto apático e entediado, e com isso acaba encontrando aquilo que havia perdido no caminho, que era qualquer vestígio de ambição e perspectiva de vida.
Até metade do caminho percorrido, Serge ainda acredita que está tudo perdido, pois percebe que alguns acabam se aproveitando de seu aspecto bruto e ingênuo para tratá-lo como um mero trabalhador braçal, sem nenhum sentimento.
Após descobrir que muitos lugares que havia trabalhado não o registraram (ou seja, é tratado com indiferença mais uma vez), Serge encontra naturalidade e bondade nas mais exóticas coisas, como sua sobrinha que foge completamente do padrão de normalidade aceito por nossa sociedade, porém de uma amabilidade incrível, que acaba por ser a única que consegue compreende-lo e ajudá-lo a redescobrir o valor vida.
“Mamute” não poderia ser mais bem descrito em palavras do que com as que o jornal O Globo utilizou: Mamute é “uma doçura de gigante”.
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